O refluxo laringofaríngeo (RLF) é uma condição comum, mas muitas vezes subdiagnosticada, que ocorre quando o conteúdo ácido do estômago retorna até a região da laringe (garganta) e da faringe. Diferente do refluxo gastroesofágico tradicional, que causa azia e queimação no peito, o RLF pode se manifestar com sintomas na voz e na garganta, o que leva muitos pacientes a procurar o otorrinolaringologista antes mesmo do gastroenterologista.
O que é e por que acontece
O refluxo laringofaríngeo ocorre quando o esfíncter esofágico superior — uma válvula que deveria impedir a subida do ácido — não funciona corretamente. Assim, pequenas quantidades de ácido e enzimas digestivas sobem até as vias aéreas superiores, irritando as mucosas da laringe e faringe.
Fatores como má alimentação, obesidade, tabagismo, consumo excessivo de café, álcool e comidas gordurosas, além de deitar-se logo após as refeições, aumentam as chances de refluxo. Além disso, pessoas com hérnia de hiato ou que apresentam maior sensibilidade na mucosa da garganta podem ter sintomas mais intensos.
Sintomas mais comuns
O RLF nem sempre causa azia, o que pode confundir o diagnóstico. Os sintomas mais característicos estão relacionados à voz e à garganta, como:
- Rouquidão persistente;
- Sensação de “caroço” na garganta;
- Tosse seca frequente;
- Necessidade constante de limpar a garganta;
- Ardor ou irritação ao falar por longos períodos;
- Pigarro e voz cansada.
Em alguns casos, o paciente também pode apresentar dificuldade para engolir, dor de garganta recorrente e sensação de secreção descendo pela garganta, mesmo sem infecção.
Como o refluxo afeta a voz
O contato repetido do ácido com a laringe causa inflamação nas pregas vocais, que são estruturas delicadas responsáveis pela produção da voz. Quando irritadas, elas incham e vibram de forma irregular, o que gera a rouquidão. Com o tempo, a inflamação crônica pode levar à formação de pequenas lesões, como nódulos ou pólipos, especialmente em pessoas que usam muito a voz, como professores e cantores.
Essa irritação também explica por que o refluxo é uma causa frequente de disfonia (alteração vocal). Muitos pacientes acreditam estar apenas com “voz cansada” ou “garganta seca”, quando na verdade há um processo inflamatório contínuo agravado pelo ácido gástrico.
Diagnóstico e avaliação com o otorrino
O diagnóstico do refluxo laringofaríngeo é feito por meio da avaliação clínica e, em muitos casos, com exames específicos, como a videonasofibroscopia. Esse exame permite visualizar as pregas vocais e a mucosa da garganta, identificando sinais típicos de inflamação causados pelo refluxo.
Em alguns casos, o otorrino pode solicitar exames complementares, como a pHmetria esofágica ou a endoscopia digestiva alta, especialmente quando há dúvidas sobre o grau de refluxo ou associação com refluxo gastroesofágico.
Tratamento e controle dos sintomas
O tratamento envolve uma combinação de mudanças de hábitos e, quando necessário, o uso de medicamentos que reduzem a produção de ácido gástrico. Entre as principais medidas estão:
- Evitar deitar-se logo após comer (esperar ao menos 2 a 3 horas);
- Fazer refeições leves e evitar frituras, café, chocolate e bebidas alcoólicas;
- Elevar a cabeceira da cama;
- Manter o peso adequado;
- Não fumar.
Os medicamentos mais utilizados incluem inibidores de bomba de prótons e protetores gástricos, sempre sob orientação médica. Em paralelo, o acompanhamento com o otorrinolaringologista é essencial para avaliar a recuperação da mucosa e tratar possíveis alterações vocais.
Quando procurar um especialista
Rouquidão que dura mais de duas semanas, sensação de irritação constante na garganta e tosse sem causa aparente são sinais de alerta. O otorrino é o profissional indicado para avaliar o trato vocal e identificar se o refluxo está comprometendo a voz ou causando inflamações repetidas.
O diagnóstico e o tratamento precoces evitam complicações e melhoram significativamente a qualidade de vida e da voz.